Desporto

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A vingança

      Afonso Dias, o camionista, foi condenado a três anos de prisão efectiva por envolvimento no desaparecimento do menino Rui Pedro. Um caso que devastou seus pais e sensibilizou todo o país, tal como outros que, com excessiva e angustiante frequência, têm ocorrido no país. Um tema tenebroso e velho de décadas. A mãe do menino não desiste de o procurar alimentando a ténue esperança de o encontrar com vida. Nada!, não há rasto do Rui Pedro! Não se sabe o que lhe aconteceu a partir de certa altura, quando deixou uma certa prostituta. Julga-se que, Afonso, seu grande amigo, sabe. Não imagino a intensidade da angústia semelhante à dos pais que não sabem o que aconteceu ao seu filho!
 
      De tudo o que li sobre o tema não há provas concludentes da culpabilidade de Afonso Dias. No entanto, foi condenado, apesar do princípio jurídico do "in dúbio pro réu"! Porque foi Afonso condenado havendo dúvidas da sua culpabilidade? Admito que possa ignorar algo essencial do processo, mas, quanto a mim, Afonso foi condenado para apaziguar o sofrimento da mãe do Rui Pedro e ir de encontro à espectativa da comunidade, que nele precisam de ver "o culpado".  E este é um tema da natureza humana profunda, desde os primórdios do "Australopithecus Africanus"; a compulsão da necessidade do "bode expiatório" como factor de compensação de perda.
 
      Os sacrifícios religiosos de animais e até de seres humanos ao longo da história das sociedades humanas, associada às práticas religiosas ou afins, visavam ressarcir os deuses por "pecados" próprios ou de terceiros, ou suscitar a sua graça por uma causa futura. A autoflagelação, prática corrente em certas religiões, mais não é do que a tentativa de recuperação da inocência através da suscitação da comiseração divina pela via da sofrimento autoinflingido. Até nas coisas mais banais, como no futebol, este mecanismo funciona; sempre se procura algo ou alguém a quem atribuir a responsabilidade dos inêxitos pela simples razão de que atenua dolorosa realidade, que no fundo se conhece.
 
      A sofrimento e o definhamento da mãe do Rui Pedro, pedia um culpado, um bode expiatório. Sangue pede sangue, não importa de quem, apenas sangue por conta de algo!, uma tradição bárbara que nem Cristo conseguiu extinguir, nem mesmo aos "cristãos"! Afonso Dias foi o melhor candidato. Acredito que, com esta condenação, os pais do menino, num primeiro momento, se sintam mais apaziguados por julgarem ter-se feito justiça. Mas sei que a dúvida da culpabilidade de Afonso acabará por os angustiar ainda mais. E no entanto, são pessoas que apenas não sabem lidar com o seu enorme sofrimento.
 
      Confesso que não sei como se sai deste labirinto, a não ser pelas palavras sábias de Jorge Luis Borges...ou de Jesus Cristo, o Redentor!

Paços de Ferreira-Benfica (1-0)

      Banhada de água gelada para os benfiquistas!, perante a espetativa de aumentar para nove pontos a distância para o rival mais direto, que, com tanta lamúria e protesto, conseguiu virar os "erros" dos árbitros a seu favor, a equipa do Benfica claudicou perante um adversário tradicionalmente difícil no seu campo.
 
      A minha perspectivas do jogo baseia-se apenas na visualização da 1ª parte; acompanhei a 2ª parte pelo relato deplorável da BTV. Este jogo é mais um que reflete a miséria do campeonato nacional que resulta da disparidade de competitividade das equipas. Sem argumentos desportivos, as equipas mais fracas, colocam dez jogadores no primeiro quarto do terreno para impedir o adversário de jogar...e bola para a frente à procura da sorte. Foi o que fez o Paços no jogo de hoje; jogou com as armas que tem...mas já o vi fazer muito melhor...discutindo o jogo taco a taco, bravamente. Mas é verdade que já vi equipas mais fortes fazerem o mesmo. Perde o público.
 
      Apesar da total ausência de espaço para jogar, entraram bem os encarnados, controlando o jogo e desencadeando lances ofensivos que renderiam uma grande penalidade indiscutível, desperdiçada por Lima. Estou em crer que, caso tivesse sido convertida, surgiria a goleada. Julgo que este lance foi decisivo para o desenrolar do resto da partida; ao encarnados desanimaram e os castores acreditaram. Talvez a equipa do Benfica tenha também acusado a pressão de "ter que ganhar" devido à derrota da véspera do Porto. Salvo o erro, a grande penalidade deveria ter sido repetida; o GR pode mexer o corpo mas tem que manter os dois pés sobre a linha de golo!, não foi o caso; desatou aos saltos e, com esse estratagema, perante as barbas do árbitro, conseguiu desconcentrar o avançado. Lima nunca marcou uma GP desta forma. E falhou!, é dos livros.
 
      A partir daqui, o futebol encarnado perdeu o meio-campo, onde os castores metiam quatro a seis jogadores, revelando falta de criatividade, patente, aliás, desde o início da época, atenuada por Enzo e Gaitán, este, por azar, hoje ausente. Talisca tem um futebol previsível; é lutador, chuta e progride bem, mas não tem a virtude da imprevisibilidade, que resulta da capacidade da finta curta que permite "virar", num momento, a rota ofensiva. Mais, a equipa revelou falta de inteligência!, dentro do campo ou fora dele, alguém deveria ter mandado atacar, também, pelo flanco esquerdo, onde Ola John andava às moscas, enquanto Sálvio se debatia, lance após lance, com quatro defesas!, como foi possível? , Há um lance em que Sálvio, tapado, tenda virar o jogo fazendo um passe para o centro...e não é que o colega lhe devolveu a bola, insistindo no flanco?, Valha-me Deus!
 
      Diga-se em abono da verdade que, apesar do domínio vermelho, pastoso, embora, de baixa intensidade, o Paços esteve à beira de marcar, não fora afortunada intervenção de Júlio César. Já sabemos que um dos propósitos das táticas ultra-defensivas é induzir ansiedade no adversário levando-o a cometer erros, devido à perda de discernimento tático e à crença na sua invulnerabilidade. No resumo da BTV, não me parece que tenha havido falta para GP do Eliseu. Este interseta a bola e posteriormente há contacto promovido pelo atacante. Funcionou o choradinho azul. De qualquer modo, este é um lance característico do Elizeu; atrasa-se nos lances e entra por trás em queda, aumentando o risco de falta. Tinha havido um caso idêntico na 1ª parte mas safou-se. A equipa necessita de Ruben Amorim e Gaitan urgentemente.
 
      À margem do jogo, mas fazendo parte dele: O PS apresentou queixa no DCIAP contra o Benfica por alegado incumprimento dos protocolos celebrados com a Câmara do Seixal! Luxo Gonzalez, disse recentemente, que o Porto, para ganhar, tinha que criar instabilidade no Benfica, tática em que PC é exímio desde tempos imemoriais. PC visitou pessoalmente e recentemente, o mais famoso prisioneiro do país declarando-se solidário com o prisioneiro, por sinal, benfiquista. Foi Vale e Azevedo o primeiro a perceber a "aliança implícita" entre o PS e o Porto; ora cá está mais uma coincidência a reforçar essa tese. Pinto da Costa interveio publicamente a favor de uma figura carismática do PS caída em desgraça e o PS, "lembrou-se" de atacar o Benfica, esquecendo-se durante muitos anos de averiguar o caso do Centro de Estágios do Olival e, agora, os termos da concessão da piscina da cidade do Porto ao FCP. Sintomático. Esta convergência vem de longe...desde o 25 de Novembro, quando Mário Soares "fugiu" para o Porto para preparar uma hipotética invasão de Lisboa com a colaboração da CIA e do vice-rei do Norte Pires Veloso, e tem a ver com o interesse comum da regionalização. Guterres, António Costa e até Sócrates, ao que consta são benfiquistas, mas, para os socialistas, nada está acima dos interesses do PS! E o Benfica agrega, une, comunga, enaltece enquanto o Porto fratura, divide, agride, precisamente as virtudes que interessam aos falsos regionalistas.
 
Porém devo dizer que, cada vez tenho mais dificuldade em acreditar no futebol, todo ele. Raramente o desfecho de um jogo é o resultado do que se passa nas quatro linhas. Se calhar é pancada minha.
 
Et voilá!
 
Meninos da Luz; trabalhem, concentrem-se e lutem com determinação e inteligência.