Desporto

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Conhecimento; integração e fragmentação

      Edgar Morin, filósofo, historiador, jurista e humanista de 93 anos, francês de origem judaica e crítico da política israelita, dissidente comunista, ex-combatente pela resistência francesa, autor de “Diário da Califórnia”, “Um ano de Sísifo” e “Chorar, Amar, Rir e Compreender”, numa entrevista que concedeu à revista brasileira “filosofia” revelou algumas das suas ideias e preocupações, entre as quais o cepticismo relativamente ao futuro da europa e indignação pela passividade desta relativamente aos conflitos africanos, a predilecção pelo estudo das contradições sociais e humanas, a dicotomia entre ciência e filosofia e as consequências nefastas da difusão fragmentada do conhecimento, característica do ensino atual.

      E foi esta última faceta que me prendeu a atenção por estar desde há uns anos sensibilizado para o tema e vê-lo pouco tratado a tão alto nível. Portugal sofre de um claro défice de difusão e debate das grandes correntes de pensamento, quando muito acessíveis e aprisionadas pelas elites académicas, enquanto os meios de comunicação nos entulham a mente com querelas político-partidárias muitas vezes sem qualquer substância.
     A este respeito, refere Morin que o conhecimento se torna menos interessante se compartimentado em disciplinas, atribuindo ao alemão Norbert Winer a descoberta da retroação negativa e a utilização da roda da complexidade na definição da grande variedade do sistema. Crê que a imposição da complexidade sobre a compartimentação caracteriza a época actual e constitui um novo caminho para o mundo e para o ensino, exigindo uma mudança da estrutura mental que, segundo ele, está já a ocorrer nalguns países da América Latina, como o Brasil e em muitas pessoas que aspiram à complexidade e à posse da verdade. Edgar Morin dedicou grande parte da sua actividade intelectual de cerca de cinco décadas, traduzida nas obras citadas - uma das quais constituída por seis volumes escritos em cerca de trinta e cinco anos - a procurar formas de articulação, de integração dos diversos saberes, sem as quais afirma não ser possível aspirar à compreensão da realidade, seja das questões perenes como da vida ou da morte, como para os novos desafios que as tecnologias e as novas descobertas científicas impõem ao ser humano.
      Mais prosaica e modestamente parece-me constituir a especialização um grave equívoco do atual sistema de ensino enquanto bloqueador da capacidade de interpretação holística da realidade, traduzindo-se numa ignorância crónica propiciadora de distorções e contradições com sua torrente de incomensuráveis consequências. Perante o vertiginoso avanço do conhecimento, ingrata é a tarefa de Morin e seus seguidores.
      Considera o filósofo não existir a necessária comunicação entre pensamento e Ciência - que reformula a nossa concepção do mundo - e que esta é incapaz de pensar em si mesma reconhecendo-lhe a capacidade de produzir os “grãos” mas não a de os “moer”, tarefa própria do pensamento. Denuncia o absurdo desta compartimentação considerando que a generalidade dos filósofos estão fechados â Ciência, considerando-a superficial, enquanto os cientistas desprezam a Filosofia por a entenderem como pura conversa vazia, apesar de algumas excepções entre as quais a de Michel Cassé.
      Uma boa caipirinha é ao que Morin compara a inteligência quando coquetel bem feito, considerando muito limitadas, quer a razão sem sensibilidade quer a paixão sem razão. Não diz, porém, a que poderá comparar-se a criatividade, atributo superior à inteligência mas que dela necessita. Se bem entendo, perante o exemplo de Newton que apresenta, a inteligência consistirá na capacidade de perguntar e a criatividade na de responder.

      Estudioso das contradições humanas, o filósofo exemplifica, recorrendo ao comportamento dos bébés, como o ser humano, sendo profundamente egocêntrico,  anseia pelo "nós", pela aproximação dos outros, quando se defronta consigo próprio, quando está só.
Créditos: Revista Filosofia, edição 78, de janeiro de 2013, editora Escala, com entrevista por Sérgio Mélega.

Benfica-Arouca (4-0)

      Do jogo apenas presenciei a última meia-hora na BTV, precisamente o melhor período do Benfica, aquele em que a melhor qualidade individual dos seus atletas impôs uma dinâmica ofensiva demolidora para a agressiva  e solidária defensiva do Arouca. Talisca junta profundidade e talento a pragmatismo, algo de que a equipa estava necessitada; Ola John exibiu toda a sua classe traduzida em velocidade, drible e precisão com duas assistências magníficas para golo; Derley melhorou muito a qualidade de movimentação e Sálvio foi igual a si próprio com uma assistência soberba e um golo fantástico. Jonas teve uma estreia auspiciosa, e não engana; sabe movimentar-se e meter o pé a preceito como aconteceu no seu golo a passe de Ola John. Pareceu-me que Samaris melhorou de produção, tendo exibido pormenores técnicos de controle da bola e drible ilustrativos do seu talento. Gostei do Lisandro, poderá ser o parceiro de Luisão, e gostei do Artur que, com duas ou três boas defesas, permitiu que se tivesse chegado à 2ª parte com a baliza intacta; parece que a concorrência lhe está a fazer bem. Julgo que temos um problema com a falta de velocidade e crónico mau posicionamento de Eliseu que nos é fatal frente a atletas de maior qualidade.
      Bem o Arouca, naquele velho estilo de não deixar jogar, com muita "fruta" pelo meio, disciplina onde Bruno Amaro - salvo o erro - deu cartas tendo sido poupado à expulsão. Já o seu guarda-redes mostrou boas qualidades com um punhado de boas defesas, ainda na 1ª parte, adiando o que viria a ser inevitável.
      Benéfica para o Benfica é a paragem de duas semanas que se segue no campeonato permitindo trabalhar a integração das novas opções e a recuperação dos lesionados.
       A equipa está claramente numa trajetória de subida de rendimento que espero tenha reflexos também na "champions".