Desporto

sábado, 4 de janeiro de 2014

A entrevista de Filipe Vieira; 1ª parte

Com o campeonato parado e as vendas a cair, os jornais desportivos enchem as suas páginas com temas relacionados com o Benfica.  Foram os casos de "O Record" e "A Bola" na semana que agora finda, destacando-se, neste, uma grande entrevista de Filipe Vieira, que aqui apreciamos.
 
De tudo o que foi dito nada de novo se revelou. Filipe Vieira aparece confiante no desenvolvimento do seu projeto de longo prazo, promovendo incrementos contínuos de competitividade desportiva em todas as modalidades - com destaque para o futebol sénior -, sustentado no controlo financeiro, no crescimento económico, no fomento de modernas infraestruturas, no desenvolvimento da formação, na cordialidade institucional e na expansão social. Poderemos apontar muitos erros, alguns deles graves, à Direção de Filipe Vieira; a falta de projeto e de coragem não estão entre eles.
 
No domínio das infraestruturas anuncia a já conhecida intenção de construção de um centro social para antigos atletas e de ampliação do parque desportivo no Seixal, com mais três campos de treino. O primeiro caso aprofunda a solidariedade e coesão benfiquista, o segundo alarga a base de recrutamento e formação potenciando a competitividade global.
 
Após o sucesso da "impossível" TV, a difusão e agregação social  do benfiquismo e dos benfiquistas, continua no topo das suas prioridades, agora com o anúncio da intenção de avançar para uma rádio própria, desbravando caminho, mais uma vez, aos seus congéneres. Destaco a substancial diferença estratégica face aos dirigentes portistas, os quais têm preferido parasitar - salvo seja - meios de comunicação já em marcha -  Jornal de Notícias, Porto Canal o Jogo e outros -, na perspetiva de captar novos mercados e na minimização de custos tirando proveito do equívoco regionalista que pretende resumir o Norte à cidade do Porto e esta ao Futebol Clube do Porto.
 
Neste projeto, a sustentabilidade financeira futura e a competitividade desportiva  está dependente da consistência da qualidade dos novos atletas da formação, que proporcionarão uma inversão na estratégia de recrutamento reduzindo o recurso  a mercados externos, abrindo a possibilidade de redução do endividamento, que, a verificar-se, induzirá novo fator de competitividade desportiva. Não há dúvida de que os atletas da casa sentem o clube de forma muito especial e tal reflete-se nas provas, caracterizando-se por uma vontade indomável de vencer, cimentada por muitos anos da águia ao peito. Aqui reside, efetivamente, o verdadeiro, 12º jogador. Sem dúvida. Mas os perigos são muitos!, desde logo, o parasitismo empresarial - salvo seja -, e, não menos importante, a sagacidade do Técnico principal e dos Dirigentes.  Efetivamente, é necessário, mas demasiado arriscado blindar o jovem atleta antes de este despertar a cobiça dos clubes depredadores. Quem de direito, deve implementar medidas para proteção dos clubes formadores, proporcionando as condições para a respetiva melhoria de competitividade. Não faltam os maus exemplos; vejam-se os mais recentes de Bruma que poderá ser replicado por William e até por Sancidino. Recordemos Edgar, Hugo Leal, Maniche e Moutinho. Então?, censuram-se os clubes pela falta de formação e, quando estes a fazem, gastando fortunas - o SCP gasta cerca de 9 ME/ano! -, e conseguem formar um atleta com potencial, quando o clube, depois de pelo menos uma década de formação - 90 ME! -, tem a possibilidade de ressarcir-se do investimento efetuado, fica sem ele?, que moralidade têm estes atletas, para abandonarem o clube ou exigirem mundos e fundos, após terem-se servido de toda uma estrutura e conhecimento acumulado em décadas?, e que moralidade têm os que, de braços cruzados, exigem formação aos clubes? Algo tem, aqui, que mudar! Até lá é fundamental garantir a competência de toda a estrutura da formação e o conhecimento perfeito da legislação aplicável. Tudo isto abona  em nome da necessidade de manutenção de todas as opções de recrutamento em aberto, como afirmou Filipe Vieira. Porém, o êxito desta estratégia está, sempre, dependente de uma equipa competitiva, que, por sua vez, exige a manutenção de um núcleo de atletas emblemáticos durante três a seis anos. Veja-se, mais uma vez, o exemplo do SCP!; forma bons atletas mas não consegue tirar proveito deles por falta de competitividade da equipa sénior!, os próprios atletas, servem-se da sua formação e, logo que estão prontos, "raspam-se" para outras paragens.
      Para que tudo funcione, a equipa do Benfica deve ter, sempre, três a quatro jogadores de grande gabarito e todos os outros bons,  cada um com a sua particularidade, precisamente para que os jovens tenham orgulho em jogar com eles, a ser acarinhados pelos adeptos e tenham orgulho no seu clube. Não se tem orgulho num clube que não ganha!
      Isto traz para o centro da estratégia a política de recrutamento que, quanto a mim, revela grandes e graves lacunas. Não sei ao certo quantos jogadores profissionais tem o clube, noticiou-se há dias 104!, por mim não deveria ultrapassar 34. A redução de encargos correspondente - estimo que à volta de 6 a 7 ME ano em salários e 5 a 10 ME ano em direitos -, permitiria segurar os melhores atletas durante mais tempo e maximizar todas as receitas adjacentes, gerando um ciclo virtuoso, com impacto competitivo. Não tenho dúvidas quanto a isto.
      No entanto, Filipe Vieira, refere que a estratégia atual gera recursos adicionais ao clube pela comercialização de direitos dos atletas emprestados, proporcionando adicionalmente a rodagem necessária à maturidade dos mesmos com vista à integração na equipa principal. Apesar da aparente racionalidade desta estratégia parece-me óbvio que a necessidade de alargamento da base de recrutamento, radica no reconhecimento da dificuldade de identificação eficaz dos talentos recrutáveis de que a equipa necessita. E esta é uma das maiores fragilidades da Direção Desportiva do Benfica! É inquestionável!, desde há muitos anos, tem sido um drama para preencher qualquer posição na equipa! Tenha paciência, caro Filipe Vieira, enquanto não for resolvida esta lacuna não ganharemos e todo o projeto ruirá, neste caso, por falta de telhado. É imperioso comprar menos e melhor.
      Não referiu Filipe Vieira, a importância  na diplomacia desportiva da estratégia do empréstimo de atletas a outros clubes, subtraindo-os à órbita do Porto, clube que dela tem tirado  proveitos tão importantes  como despudorados. Porém, não faz parte da ética benfiquista controlar pelo financiamento direto ou implícito o desempenho dos adversários em seu proveito, pelo que, esta, não me parece uma opção prioritária para o clube.