Desporto

terça-feira, 2 de abril de 2013

FAIR PLAY OU BAD PLAY?


In ABola de 1 de Abril de 2013 por José Manuel Delgado, com vénia ao Indefectível 
Falta de vergonha é o que está a dar

"Perdoem-me a crueza das palavras mas o controlo dos salários levado a cabo pela Liga de Clubes é uma verdadeira palhaçada...

O futebol profissional em Portugal não passa de uma brincadeira de mau gosto. Por culpa dos clubes e do laxismo do Governo. Culpa dos clubes porque não estão preocupados com a viabilidade da competição; laxismo do Governo porque faz vista grossa a uma área que devia tutelar.
 
Alegadamente, os clubes não devem nada aos jogadores, a certificação entregue e aceite pela liga assim o diz. Enganem-me que eu deixo, é a mensagem que chega aos emblemas do futebol profissional, numa conivência com várias tonalidades, cada uma com justificação própria, mas todas a colocarem pregos no caixão da viabilidade da competição.
 
O esquema usado por muitos clubes é simples mas eficaz, tanto mais que ninguém está interessado em confirmar a veracidade das declarações entregues. Periodicamente, os futebolistas, amiúde sob coação dos clubes, assinam documentos dizendo que têm os salários em dia. Tenham ou não, os jogadores - que são o elo mais fraco - sem alternativa laboral a meio da época, preferem acreditar no Pai Natal dos clubes, contribuindo para faz de conta que também conhece o beneplácito do seu Sindicato. Ou seja, é uma teia de cumplicidades - liga, Clubes e jogadores - que perpetua a mentira e leva a situações aberrantes como a que é vivida atualmente no Olhanense. E parece que ninguém se importa realmente com o caso...
 
Na próxima jornada, o Olhanense recebe o Benfica, numa partida importantíssima para o título e para a manutenção. Não se sabe se os algarvios vão usar os jogadores profissionais ou se recorrerão aos juniores porque, entretanto, os profissionais entregaram um pré-aviso de greve por falta de pagamento dos salários, algo que entra em contradição com as declarações depositadas na liga. Uma mentira, uma vergonha, um despautério. O rei vai nu. A I liga, com 16 equipas, é uma mentira e estar a falar em passar para 18 concorrentes (se o Boavista vier a ser reintegrado...) é o cúmulo do disparate. Meus senhores, acordem! Portugal, já com muita boa vontade, não tem capacidade para sustentar uma Liga profissional com mais de 12 clubes. E se esses 12 clubes disputarem duas fases, uma entre todos e outra para os seis melhores e seis piores (o que perfará 32 jogos) talvez se encontrem meios para sustentar uma competição a sério, verdadeira e, ao contrário do que hoje acontece, honesta. Porque a mentira chegou ao auge. Na Liga portuguesa há clubes que não pagam aos jogadores e estão bem classificados e outros que têm tudo em dia e arriscam-se a descer de divisão. Pior não pode ser e anda tudo a assobiar para o lado como se não fosse nada.
 
A pergunta de um milhão de dólares é a seguinte: Há alguém interessado em colocar tudo isto no são ou é mesmo para continuarmos no reino da pouca vergonha?
 
 
Comentário Zaratustra:
 
Creio que o termo "bandalheira" é muito mais apropriado para designar o atual estado do futebol nacional do que o de "brincadeira de mau gosto" usado por JMD. Arrisco-me a ganhar "o milhão de dólares", afirmando a minha convicção de que, os crónicos poderes dominantes têm interesse em manter o atual estado do futebol. Como sabemos, o "Pai Natal" de que fala Delgado , tem rosto. Quem controla a transmissão dos direitos desportivos, adquire-os aos clubes insolventes por tuta e meia para depois os revender com ganhos substanciais acumulando capital que, por sua vez lhe permite consolidar e perpetuar este domínio. 
 
Até o Benfica foi capturado neste esquema, do qual está prestes a libertar-se, não sem antes ter pago elevado preço económico e desportivo, perante o ódio de alguns e a covardia de muitos. Porque este "Pai Natal" está vinculado a um dos concorrentes e usa o seu poder financeiro para controlar o desempenho desportivo dos adversários deste, de forma a beneficiá-lo. Os clubes insolventes ficam demasiado vulneráveis aos eventuais pedidos de fretes desportivos dos seus financiadores. Não é assim? Ah; mas não há provas! Pois; se calhar não. Se calhar não interessa procurá-las. Se calhar porque a  cumplicidade e o descaramento vão muito longe nas hierarquias dos múltiplos poderes. Pois é! Porém, há algo que nenhuma manigância consegue superar; a capacidade de observação, análise, dedução  ou simples intuição dos adeptos. Pressente-se o mentiroso antes de compreender a mentira. Não é assim JMD?
 
Claro que o modelo que JMD é o mais adequado para propulsionar o futebol desde que comulativamente com o expurgamento das sanguessugas que vêm esmifrando os clubes; mercadores de direitos de transmissão, empresários, financiadores, agentes de segurança, etc. Governos, UEFA e FIFA, são os grandes responsáveis por esta "cégada". Mas a que propósito se condecora um empresário por mérito desportivo ou afim? Afinal, o empresário vive dos clubes; absorve parte substancial da mais-valia da transações, inflaciona os salários, induz instabilidade desportiva permanente, necessária - pois claro - à promoção de novas transações! E assim por diante! Quantos atletas se terão sentido vexados perante a indiferença dos poderes públicos aos seus feitos no terreno de jogo ao terem conhecimento dos galardões que aqueles  se apressaram a atribuir aos mercadores de atletas? O lado sórdido do futebol tem vindo a sobrelevar de forma clara a sua vertente sã que a todos fascina. Até quando?
 
António Barreto

O CÚ DOS POBRES!

 

 
Um sarcástico poema de um "velho Lobo do Mar", amigo, conterrâneo e colega, de seu nome, Joaquim Romão:

 

Bananolândia (2)
(As campanhas eleitorais)

Todo o santo dia
Só ouço apregoar
Democracia, democracia !!!
Mas vejo a vida a piorar

Tomam de assalto os jornais
A rádio e a televisão
Dão canetas, aventais
Estendem-nos todos a mão

Nós temos a solução
Dizem a todo o momento.
Após o voto na mão:
“palavras” leva-as o vento      porque:

Quando chegam ao “poleiro”
Todos !!! de igual modo
Coletam o nosso dinheiro
E dão cabo-dele-todo

No parlamento então
Para não chorar, é de rir !!!
Sempre “os mesmos” na “oração”
E os outros a dormir

Os discursos e restolhos
Que fazem na “assembleia”
São p’ra nos jogar nos olhos
Muitas carradas de areia

Às P.M.E:s comprometidas
Todos juram dar a mão
Mas é p’ra tirar as medidas
Para comprar o caixão

O Coelho diz: estamos bem !!!
Em quê (?) quero eu saber
Desgraçado, quem não tem
Jamais na vida vai ter

O Seguro diz: estamos mal !!!
Mas não dá qualquer receita
Para curar Portugal
De tanta coisa mal feita

O bloco com o Semedo
A Catarina e o Fazenda
Embrulham-se num enredo
E vão rasgando a “tenda”

O jerónimo, sempre igual
Com a cassete gravada
Para salvar Portugal:
Fala, fala, mas não faz nada

O Paulo, já não vai às “feiras”
Para beijar velhas e meninos
Mas já arranjou maneiras
De “afundar” os submarinos

Com tanta “gente mandante”
E tantos desempregados
Estaremos num instante
Mais perdidos que achados

Eu só temo que no futuro,
Se assim continuar, até juro !!!
Vem um que nos manda: andar nu !!!
E o meu maior pavor
É que se a merda tiver valor
Os pobres nasçam sem cú

- - - - - - -

Por agora digo:

Político, serei teu amigo
E votarei afinal
Se, em vez de olhares p’ro umbigo
Olhares para Portugal

Versão atualizada  da “BANANOLÂNDIA”
Editada em 2009

2013/03/24
Q.R.  

CELESTE RODRIGUES; a Lenda das Algas


 Lenda das Algas é um dos mais belos fados do nosso cancioneiro e ninguém mas mesmo ninguém o canta melhor que esta nossa deusa, de seu nome Celeste Rodrigues. Um timbre de uma suavidade invulgar, uma sonoridade cheia de atizes, silêncios, suspensões e inflexões, que nos transportam ao cerne emocional do tema. Cuidado com os mosquitos!
CELESTE RODRIGUES
Lenda das Algas 
In Museu do Fado
Celeste Rodrigues é uma fadista tradicional das mais conceituadas do universo musical português, considerada uma referência pelas mais jovens gerações de intérpretes.
Maria Celeste Rebordão Rodrigues nasceu no Fundão a 14 de Março de 1923. Quando tinha 5 anos os seus pais vieram para Lisboa e estabeleceram-se no bairro de Alcântara. Celeste Rodrigues frequentou a Escola Primária da Tapada e recorda a sua infância como igual à de tantas outras crianças, com a excepção de se reconhecer como uma "maria rapaz", traquina, embora tímida e envergonhada. Quando não quis estudar mais, empregou-se numa fábrica de bolos. E, mais tarde, junto com a irmã Amália, trabalha num ponto de venda de artigos regionais na Rocha Conde de Óbidos (cf.“Álbum da Canção”, 1 de Maio de 1967).

A sua carreira é impulsionada pelo empresário José Miguel, à data proprietário de várias casas típicas, que depois de a ter ouvido cantar, entre amigos, na Adega Mesquita, insiste na sua profissionalização como fadista.
Celeste Rodrigues estreia-se em 1945 no Casablanca (actual Teatro ABC) e, dois meses depois, ingressa numa Companhia teatral e parte para o Brasil, acompanhando a irmã Amália Rodrigues na representação da opereta "Rosa Cantadeira" e da revista "Bossa Nova". Esta digressão acaba por durar cerca de 1 ano. Ao longo da sua carreira Celeste Rodrigues receberá diversos convites para integrar peças de teatro, mas recusa sempre.
No regresso a Lisboa dá continuidade à sua carreira de fadista, apresentando-se no elenco de diversos espaços de fado como o Café Latino, o Marialvas ou a Urca (na Feira Popular). Mais tarde, transita do Luso para a Adega Mesquita, onde se mantém por 4 anos. Posteriormente integra os elencos da Tipóia e da Adega Machado.
No início da década de 1950 a fadista regressa ao Brasil, desta feita para actuar na rádio, na televisão e no restaurante Fado, de Tony de Matos, sempre com assinalável êxito.
Aos 30 anos casa-se com o actor Varela Silva, com quem tem duas filhas. É contratada para cantar na casa Márcia Condessa e, em Janeiro de 1957, torna-se proprietária do restaurante típico A Viela, um espaço privilegiado para a convivência de poetas, intelectuais, cantores e de longas tertúlias, mas ao qual renuncia 4 anos mais tarde, confessando não sentir“queda para o negócio” (cf. Álbum da Canção, 1 de Maio de 1967).
Na década de 1950 Celeste Rodrigues era já uma figura ímpar no universo do Fado, levando-o além fronteiras, para países como o Brasil, Espanha, Congo Belga, África Inglesa, Angola e Moçambique. E, em território nacional, era também uma fadista consagrada, conforme revela à revista “Álbum da Canção”, foi das primeiras “a actuar no período experimental da RTP, no teatro da Feira Popular (…)” e “a primeira a enfrentar as câmaras, quando os estúdios do Lumiar passaram da fase de experiências para as emissões regulares.” (cf.“Álbum da Canção”, 1 de Maio de 1967), actuações em espaços bem demonstrativos da sua grande popularidade.
Continuando a pautar o seu percurso profissional pelas apresentações nas casas de fado de Lisboa, Celeste Rodrigues integra o elenco da Parreirinha de Alfama no início da década de 1960, e aí permanece por mais de 10 anos, altura em que João Ferreira-Rosa a convida para o elenco da Taverna do Embuçado, onde faz actuações ao longo de 25 anos. Posteriormente actuará nas casas Bacalhau de Molho e Casa de Linhares. A fadista concretiza uma carreira de sucesso, com actuações nas casas típicas, em programas de rádio e televisão, nacionais e internacionais. No auge da sua carreira artística, Celeste Rodrigues foi também convidada a gravar para a BBC em Londres, a convite de Richard Engleby. E, no decurso de todos estes anos de actividade intensa, teve oportunidade de passar por algumas das maiores cidades do mundo.
Apesar das sucessivas comparações com Amália Rodrigues, sua irmã, Celeste Rodrigues possui uma autenticidade única, uma forma singular de interpretação, patente nos temas do seu repertório, como os populares “A lenda das algas” (Laierte Neves – Jaime Mendes),“Saudade vai-te embora” (Júlio de Sousa), “O meu xaile” (Varela Silva), ou o tema de Manuel Casimiro “Olha a mala”, que se tornou o seu maior êxito de vendas, entre os quase 60 discos que gravou.

Corre o ano de 2005 quando Ricardo Pais, director do Teatro Nacional São João, a desafia a participar no espectáculo "Cabelo Branco é Saudade" ao lado de outras três grandes vozes do Fado: Argentina Santos, Alcindo de Carvalho e Ricardo Ribeiro. Com este espectáculo a fadista teve a oportunidade de percorrer vários palcos nacionais e internacionais.

Mais recentemente, um dos momentos altos da sua carreira é a edição do álbum “Fado Celeste”, editado em 2007 na Holanda, e que reúne fados tradicionais e inéditos com letras de autores contemporâneos, como Helder Moutinho e Tiago Torres da Silva.

Nesse mesmo ano, em Outubro, decorreu no auditório do Museu do Fado uma homenagem à fadista, iniciativa da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado, num reconhecimento da “voz bonita, capacidade interpretativa e a regularidade de uma carreira.” (declarações de Julieta Estrela de Castro, presidente da APAF à agência Lusa).
Actualmente Celeste Rodrigues vive entre Lisboa e Washington, onde residem as suas filhas e os seus netos, mas mantém uma actividade fadista regular, participando em diversos espectáculos e actuando pontualmente em casas de fado de Lisboa. Como a própria revelou, em 1970: “a idade influi grandemente na maneira como se canta. Sentimos o que cantamos, com maior sensibilidade e emoção.” (cf. “Rádio & Televisão”, 11 de Novembro de 1970, in “Cabelo Branco é Saudade”, programa do espectáculo, 2005). E é certamente essa sensibilidade e emoção que todos continuamos a registar nas suas interpretações.
António Barreto