Desporto

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Um manicómio chamado Portugal

 

Com vénia ao Clube de Oficiais da Marinha Mercante, transcrevo estes exemplos “exemplares” da verdadeira causa da falta de competitividade neste país de gente “doida” (salvo seja):

a)   Entre 2014 e 2020, os projetos de apoio à pesca artesanal irão beneficiar de uma taxa de cofinanciamento comunitário de 75%. Senhores pescadores, tratai de amealhar os restantes 25%, se puderem. (Esta não conta; é boa!).

b)   A Comissão Europeia vai canalizar para o setor das pescas verbas dos fundos da Política de coesão, para investimentos em melhoramentos das infraestruturas de apoio à pesca artesanal, como por exemplo; construção e desassoreamento de barras. (Esta também não conta; também é boa!).

c)   O “PROMAR”, Programa Operacional de Pescas, tem 65 ME para investimento em aquicultura e a Noruega vai oferecer a Portugal 58 ME para aplicar em projetos marítimos ou de saúde. (Esta ainda não conta; também é boa!). A outra a seguir é para contar; leiam com atenção:

d)   O Relatório de Auditoria do Tribunal de contas diz: “ A aquicultura não tem tido o aumento que se esperava “. E mais à frente; nos “ Investimentos Produtivos da Aquicultura do programa PROMAR com incidência sobre a execução de 2010, verificam-se desistências de promotores, devido a obstáculos na obtenção de licenças, necessárias para apresentação de candidaturas e na dificuldade de acesso ao crédito bancário. Por isso, a meta definida de 3200 toneladas de aumento de produção em 2010, ficou longe de ser atingida”. UAU! Quem se atreve a explicar aos governantes as verdadeiras causas da perda de competitividade da economia portuguesa?  Ora vamos lá pensar em conjunto: Há dinheiro…há projetos…mas…não há investimentos…por causa do excesso de burocracia! UAU! Má qui cosa bella!

e)   O consumo per capita de peixe na UE é de 22,3 Kg enquanto a média global é de 16,1 Kg. A produção de pescado europeia satisfaz 40 % da procura interna. Quer dizer; a EU importa os restantes 60 %! Agora digo eu; Portugal tem a maior ZEE da europa, que ainda vai ser expandida - esperemos -, desde a adesão à CEE, depois UE, o esforço de pesca português sofreu uma redução, salvo erro, entre 60 a 75%. Contudo, apesar da nossa frota residual, apesar da carência da UE em pescado, apesar de importarmos, aproximadamente 800 MEA, de pescado, o valor deste em lota tem baixado, continuamente, salvo exceções! Sabem porquê? Porque a UE, por razões político-económicas do interesse dos que a controlam, abriu as fronteiras à importação de pescado de todo o Mundo (poderão confirmá-lo nos hipermercados). Má qui cosa bella, mamma mia! (vejam a próxima):

f)    Uma diretiva do Instituto Nacional dos Recursos Biológicos fixou a captura máxima de sardinha nas 400 toneladas entre Janeiro e Maio de 2012, representando uma redução de 64 % face a igual período do ano passado. Digo eu; queriam saber onde anda a sardinha? Mesmo a sério? Pois! O Governo não deixa pescá-la, e os nossos pescadores não sabem onde ela anda! Quer dizer; há uma forte carência de sardinha na nossa costa e o Governo, em vez de mandar os “cientistas” estudar o fenómeno, limita a pesca! Eu vou prá ilha! Tá mesmo à minha frente, quem quer vir? (ora vejam agora a próxima; é báita fixe!)

g)   A Companhia de Pescarias do Algarve em Olhão, investiu 1,3 ME numa nova fábrica, que, apesar de ter sido inaugurada há um ano, encontra-se encerrada! Querem saber porquê? Querem? Mesmo, mas mesmo a sério? Então vão buscar um lençol para enxugar os olhos. Por falta de ligação à rede municipal de esgotos! O Porto de Pesca de Olhão não possui tratamento de esgotos e os efluentes descarregam diretamente para a Ria Formosa! O IPTM responsabiliza o Ministério das Finanças - acho que falta o tal papel - para ligação da estação elevatória, já construída, à ETAR, também pronta!  Calma; vamos pensar em conjunto; Um fdp (salvo seja) investiu 1,3 ME, criou não sei quantos postos de trabalho - riqueza endógena -, tem a fábrica parada a consumir recursos financeiros e o endividamento da Câmara não chegou para construir o “desgraçado” do ramal de esgotos? Calma; não é tudo! Então o Porto de Pesca descarrega os efluentes para a Ria Formosa! Hããããã? E os “desgraçados” dos mariscadores, estão largos meses do ano paralisados e a passar fome, com as suas famílias, por causa das toxinas! Já me esquecia; sempre podem passear nas rotundas…! Ninguém quer ir prá ilha cómigue? É bué da fixe meu! 

h)   Agora uma boa: David Melgueiro foi um navegador Português, que, em 1662 e pela primeira vez, navegou do Japão ao Porto pela rota do Pólo Norte (passagem do Nordeste)! Pergunto eu; onde é que este "ladrão" terá ido tirar o curso? Ainda não havia a Independente nem a Lusófona pois não?

i)    Outra boa: Portugal vai ter um novo navio de investigação ocenográfica! Alto aí; não estejam já a pensar coisas más; não é para fazer cruzeiros, é para investigar como "devedeser", tá?

j)    Esta é para rir: As Agências das Nações Unidas estão empenhadas em combater o trabalho infantil na pesca! São encontradas crianças a cozinhar, libertar redes, limpar e vender peixe. Parece que estão muito atentos ao problema e vão fazer um documento para publicar em 2012! Digo eu; depois, quando esse documento sair, deixará de haver trabalho infantil na pesca e meninos atirados aos crocodilos!

k)    Olhem, vou mas é ver o Benfas, a ver se isto melhora alguma coisa!

l)     Parabéns ao colega Alberto Fontes que foi o autor do referido trabalho publicado na revista dos “Herdeiros de Vasco da Gama”.
 
AB 

Colonialismo e “Africanismo”


Meninos brincando no cais do porto de pesca artesanal em Tema, no Gana
 
 
Duarte Branquinho, no editorial de “O Diabo” de 4 de Setembro de 2012, sob o título “O fardo do Homem branco” - título do poema de Rudyard Kipling normalmente associado ao dever dos povos europeus promoverem o desenvolvimento dos outros povos e considerado de racismo eurocêntrico -, refere que: “Hoje o fardo é outro. Incrivelmente, passados tantos anos, os europeus continuam a ser repetidamente culpabilizados pelo atual estado dos países que outrora dominaram” (eu próprio defendi o mesmo na sequência da minha visita ao Forte de S.João da Mina). Isso mesmo refere o historiador Niall Ferguson no seu livro “Civilização: “Nenhum autor sério poderá afirmar que o reinado da civilização ocidental foi imaculado. Contudo, há quem afirme que não teve absolutamente nada de bom. Esta posição é absurda”.

Porém, segundo o articulista, o historiador Vitorino Magalhães Godinho, explicou que; “por não existir a ideia de nação em África, os novos países construíram um passado próprio, passando a dizer que tudo quanto os colonizadores tinham trazido era mau, que eram todos uns criminosos, que tinham de pedir desculpa”. Recusando tais pedidos de desculpa, terá ainda afirmado: “o que é condenável é esconder o que se passou! Mas eu não tenho nada a ver com o que fizeram os homens no século XV! A culpa não se transmite de pais para filhos, não é hereditária.” Terá dito ainda acerca da escravatura: “Esta existia entre os povos africanos; os portugueses utilizaram as redes de escravatura existentes. Os régulos gostavam muito de vender os seus negros como escravos. E isso permanece! Terá referido ainda a continuidade dessa postura aré aos atuais chefes políticos dos estados africanos, a cujos bolsos vão ter os subsídios atribuídos aos seus países”.

Termina o articulista dizendo que “É tempo de acabar de vez com o fardo da culpabilização unívoca”.

Em “O Diabo” de 18 de Setembro de 2012, na página 1O, num trabalho sob o título “A escravatura infantil não é uma brincadeira de crianças” dá-nos conta do empenho da ONG “Filhos do Coração” em combater os negócios ilícitos que se fazem no Gana com crianças.

No desenvolvimento, situa o início “desta história” em 2007, quando a jornalista da TVI Alexandra Borges apresenta uma grande reportagem intitulada “Infância Traficada”, segundo a qual “na República do Gana há crianças de 3 e 4 anos que são vendidas pelos próprios pais, por menos de 30 euros, a traficantes que as revendem a pescadores para serem escravizadas no Lago Volta , o maior lago artificial do mundo. Estas crianças trabalham 14 horas por dia, sete dia por semana, faça chuva ou faça sol, estejam ou não doentes, em troca de um prato de mandioca.”

Segundo aquela ONG, “estas crianças são conhecidas como Kobies e Kofies, conforme o dia em que foram vendidas, porque desconhecem a sua idade e identidade. Algumas morrem afogadas no lago porque não sabem nadar, outras são assassinadas pelos pescadores que as atiram vivas aos crocodilos. Apesar do conhecimento geral desta prática e da criminalização legal da mesma, parece que ninguém se preocupa, razão que levou a citada jornalista a criar a referida ONG com o fim de alertar a comunidade internacional e pressionar o governo do Gana a combater este flagelo.

Admirável, ALEXANDRA BORGES, com a colaboração de LUIS FIGO, e da pintora ANA CARDOSO, escreveu o livro “Filhos do Coração”, editando em seguida um CD com o mesmo título, tendo obtido uma receita de 150 mil euros. Regressou ao Gana em 2009, fundou uma escola com uma ONG norte-americana Touchalifekids” e resgatou 13 crianças escravas do Lago Volta, a quem está a pagar os próximos 10 anos de vida, adiantou a “Filhos do Coração”, referindo ainda, que, o resgate destas crianças não é pago, investindo-se na consciencialização dos pescadores que as escravizam e que a saúde, alimentação, segurança e escolaridade de cada uma destas crianças custa mil euros/ano.”

“Até agora, 93 crianças já foram resgatadas” mas Alexandra Borges está convicta de que “não vale a pena resgatar mais crianças escravas do lago porque serão rapidamente substituídas. O único caminho é a denúncia para acabar, de uma vez por todas, com este atentado aos direitos humanos. É a indiferença que está a matar as crianças do Gana”.

A miséria provoca desumanidade, já o sabíamos. Uma das recordações mais bonitas que trouxe da minha breve passagem pelo Gana foi precisamente as mães nas suas improvisadas tabancas cuidando de seus meninos, ou carregando suas bacias à cabeça com eles às costas. Não esquecerei o sorriso e a felicidade daqueles dois meninos, precisamente de 3 a 4 anos, brincando no cais do porto de pesca, quando dei um beijo na face de cada um e os fotografei, suscitando a satisfação geral dos adultos negros em volta.

Estarão estes ou outros meninos condenados a esta pavorosa infâmia? Será que os pais vendem os filhos por não terem possibilidades de os sustentar acreditando que, dessa forma, têm possibilidade de sobreviver? Será que, o desespero da sua própria sobrevivência, destrói completamente o afeto paternal e maternal ao ponto de sacrificar os filhos? Será que, lá como cá, algumas pessoas são, simplesmente destituídas de afeto? Quem sabe explicar? Finalmente, levanta-se a derradeira questão; se os negros se matam uns aos outros, indiscriminadamente, seja porque razão for, ninguém se indigna? Quanta hipocrisia afinal há nos atuais dirigentes negros que exploram, escravizam e aniquilam o seu próprio povo, ao acusarem os colonizadores das desgraças que os afetam?

Afinal, parece que, todo este tema, tem que ser revisitado a uma nova luz, em que muitos dos autoproclamados “libertadores” da opressão colonial, se transformaram, hoje, nos exploradores e exterminadores dos seus próprios povos em proveito próprio e dos que, hipócritamente, os apoiaram.

AB

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Campeonato "piolhento"

O futebol “piolhento” que por cá se pratica, acabará na falência colectiva dentro de alguns anos, porque não tem credibilidade, não respeita os espetadores que pagam os seus bilhetes para ver espetáculo, acabando, afinal, por ver teatro, mau teatro!

Os protagonistas, os decisores dos jogos passaram a ser os árbitros em vez dos Atletas! Estes, mesmo os mais dotados e empenhados, vêm o seu esforço desacreditado pela ação correntemente desastrada daqueles, que, não poucas vezes, decidem o resultado dos jogos e das competições, desmotivando os Atletas honrados, seus adeptos e Dirigentes, criando um clima de crispação crescente de consequências imprevisíveis.

Carlos Xistra tem um péssimo historial de desempenho nos jogos do Benfica, quase sempre em prejuízo deste clube. Foi por isso com um mau pressentimento que ouvi o seu anúncio para o jogo Académica-Benfica! Três bolas no poste da baliza dos de negro nos minutos iniciais, agravaram tal pressentimento. Estariam Cardoso, Rodrigo e os restantes colegas também nervosos pela presença de tão “malfadado” juiz? Juraria que sim. As pessoas, são pessoas, não são máquinas.

Entrou bem o Benfica, arrasando a equipa adversária na procura de rápido desfecho, sendo apenas desfeiteado…pelos postes e barra da baliza adversária. Que fazem parte do jogo. Pressionando muito bem no meio campo, a equipa recuperava rapidamente a bola, lançando sucessivos ataques. Manhosos, os de negro, como fazem habitualmente os adversários do Benfica, acantonaram-se em frente da sua área em três linhas defensivas, partindo céleres para a ofensiva na sequência das recuperações de bola, na espetativa de apanhar a defesa contrária em falso. 

Apesar da supremacia, os movimentos ofensivos do Benfica careciam de melhor definição, continuando a revelar défice de qualidade nos cruzamentos, no jogo aéreo e na meia distância. Carlos Martins, um dos melhores atletas nestas componentes, estava no banco, Aimar manobrava numa zona superpovoada. Contra esta densidade defensiva, só funciona a meia-distância, como demonstrou Lima com o seu remate fulgurante, e os cruzamentos de grande precisão. Precisão exige qualidade técnica e serenidade do intérprete. Terá faltado serenidade aos atletas do Benfica? Afinal Carlos Xistra “oferecera” dois golos aos de preto, tendo “deixado passar” uma grande penalidade sobre Nolito.  Andariam demasiados quilovates no ar? Teria o árbitro tomado café sem açúcar? Não sei; o que sei é que, quem mais prejudica o Benfica mais sobe na carreira! Carlos Xistra é humano e, naturalmente, anseia, subir, subir, subir!

Patético foi o Presidente dos de negro, pessoa, salvo erro, a braços com a Justiça, invectivar os espetadores Benfiquistas! Repete-se em Coimbra o que acontece em Braga e no Porto; os Benfiquistas são veladamente invectivados, ameaçados, excluídos e até agredidos! Nas barbas de quem de Direito, que, assistindo passivamente, sanciona tão repugnantes gestos, contribuindo para o aumento da crispação desportiva e social.

Insto o Presidente da Assembleia Geral do Benfica - ou Benfica SAD -  a convocar uma Assembleia Geral extraordinária com um único ponto da ordem de trabalhos; Análise de propostas de protesto do clube, sócios, acionistas e adeptos, contra a descriminação de que continua a ser vítima.
 
Abaixo a trafulhice e os trafulhas!

Abaixo o totalitarismo no futebol!

Vivam o Benfica e os Benfiquistas!

AB

domingo, 23 de setembro de 2012

“Ordem” de combate ao passivo II


Afinal, as contas não são como referi, citando o “Correio da Manhã”. Este jornal, geneticamente anti-Benfica,  que faz de qualquer contratempo do clube uma catástrofe apocalítica e sempre encontra a forma menos favorável de noticiar um sucesso do mesmo, por maior que seja, precipitou-se! Na sua “sanha persecutória anti-Benfica”, exultou com a divulgação dos resultados a que a ignorância do respetivo articulista chegou apesar de ter demonstrado os seus conhecimentos de aritmética elementar.
A Direção do CM, reconhece o erro grosseiro, pedindo desculpa aos leitores e ao Benfica garantindo “reforçar os procedimentos de controlo de forma a que este tipo de erro não se repita”.  Fica-lhe bem o gesto mas não anula os estragos que provocou na imagem do clube.  O que mais me preocupa no CM porém, é a forma como dá certas notícias relacionadas com o Benfica, que induzem os leitores a tirar conclusões diferentes do seu efetivo conteúdo.
Finalmente, o saldo do exercício da época de 2011/2012, do SLB, corrigido das participações na SGPS e na SAD, cifrou-se num lucro de 452 mil euros. Pelo sexto ano consecutivo a conta de exploração do clube apresenta resultados positivos, tendo-se registado um lucro de 1,1 ME em 2010/2011 e de 2,4 ME em 2009/2010.
Reitero a recomendação que fiz na minha crónica anterior, de estudar a possibilidade de fusão de algumas empresas do grupo - mais de dez - a fim de reduzir os custos de estrutura e gerar sinergias potenciadoras da eficácia e dos resultados líquidos.
Quanto ao jogo de hoje, Académica-Benfica, apesar de algumas debilidades a nível ofensivo e físico da nossa equipa e do bom desempenho da Académica, ficou indelevelmente marcado, como já esperava, pela atuação de Carlos Xistra, com erros grosseiros que retiraram mais dois pontos ao Benfica.
Sugiro que o Presidente da Assembleia Geral da SAD, convoque uma assembleia geral extraordinária com o fim de analisar estes incidentes de arbitragem e propor medidas suficientemente dissuasoras de tais erros por parte dos árbitros e das superestruturas do futebol.
AB
 

sábado, 22 de setembro de 2012

“Ordem” de combate ao passivo


O Diário de Notícias on-line, um dos múltiplos braços do grupo Controlinveste que, diariamente, defende os interesses dos nossos rivais azuis, titulava, em 20.09.2012; “PROVEITOS AUMENTAM 10% PARA HISTÓRICOS 91,1 ME, referindo a Lusa como fonte e a participação de Nuno Fernandes. Surpreendido e desconfiado com tão lisonjeira referência, verifiquei que tal crónica resulta do comunicado da Benfica SAD à CMVM, no qual atribui o aumento de receitas à participação do clube nas competições europeias em 2010/2011 e em 2011/2012, em especial na Liga dos Campeões, que terá rendido 22,4 ME em prémios - em 20111/2012 -, resultado histórico, representando um aumento de 60 % face à época de 2010/2011.
Por sua vez, refere que, pelo 2º ano consecutivo o resultado operacional foi positivo, com um valor superior a 5,1 ME na época 2011/2012, incluindo a venda de atletas, à exceção de Javi Garcia e Axel Witsel.
O pior veio depois, ao anunciar um resultado líquido negativo de, aproximadamente, 11,7 ME e um capital próprio negativo, de 14,2 ME, resultante do aumento do ativo para 411,9 ME e do aumento do passivo para 426,1 ME. Contudo, As vendas de Javi e Witsel permitirão, no primeiro trimestre - julho, agosto e setembro de 2012 -, o regresso do capital próprio a valor positivo.
Por sua vez, o Correio da Manhã de hoje - 2012.09.22 -, refere um passivo total de 539,5 ME, considerando os resultados do exercício do clube em 2011/2012, em que as receitas atingiram os 28,6 ME - queda de 1,3 ME face à época anterior - e as despesas se cifraram em 41,6 ME - aumento de 6,2 ME face à época anterior -, resultando num prejuízo do clube de 12,9 ME que, somado ao prejuízo da SAD de 11,7 ME, totaliza 24,6 ME, ascendendo o passivo acumulado do clube aos 111,8 ME.
Foi pois com alívio que ouvi o Presidente do Benfica referir em Almada, a necessidade de “vender, baixar a massa salarial, ganhar com o talento, a entrega e o empenho dos jogadores que estão no plantel e confiar na capacidade de Jorge Jesus”.  Não chega! Espero que anuncie em breve; quanto vai a SAD amortizar ao passivo já esta época, quando estará pago o Estádio - inicialmente previsto para este ano - bem como um plano plurianual de amortização do passivo, com objetivos bem definidos.
A necessidade de redução de custos operacionais e de estrutura é imperiosa desde há muito e, embora seja aceitável a “derrapagem marginal orçamental” face à necessidade - pontual – de maximizar a probabilidade de sucesso desportivo - tal como defende Fernando Tavares - tal não deve converter-se numa prática corrente sob pena da insustentabilidade de todo o projeto Benfica. Sugiro mesmo que sejam avaliados os ganhos de fusão entre as empresas do grupo, pelas sinergias resultantes do aumento de eficiência global.
Por outro lado, é evidente para todos nós, desde há muito, a necessidade de reduzir os custos operacionais, libertando a SAD de encargos que não gerem contrapartidas financeiras ou desportivas, apostando mais na formação interna - tal como anunciou o Presidente -, recorrendo à contratação externa com assertividade, decorrente de maior competência na prospeção, bem como a necessidade de aumentar os proveitos da venda de direitos desportivos do clube para valores consentâneos com a sua valia comercial, alocando parte dessa receita à amortização do passivo, sem esquecer o afastamento de qualquer entidade do grupo Oliveira como parceiro de qualquer sociedade do grupo Benfica, indispensável à sua libertação, sem a qual não haverá verdadeiro Benfica.
Parece-me também, que deve considerar-se maior aproximação da SAD à Liga, já que me parecem boas algumas das propostas que defende, nomeadamente; o fim dos empréstimos de atletas a clubes do mesmo escalão, quanto a mim, uma das fontes de corrupção; a autonomia financeira dos clubes profissionais, outra das fontes de corrupção associada à anterior e o fim do monopólio da Olivedesportos na exploração dos direitos desportivos dos clubes, condição necessária ao fomento da competitividade, quer pelo aumento de receitas próprias dos clubes, quer pela redução da influência do grupo Oliveira em todos os agentes do desporto em geral, da qual apenas um dos contendores tira proveito, destruindo a credibilidade e rentabilidade do desporto nacional. Poderia ainda, conquistar o apoio da maioria dos clubes ditos “pequenos”, necessários para travar as ameaças provenientes da Federação, que muito têm contribuído para o afastamento do Benfica dos títulos e para a descredibilização do futebol.
Relevo ainda a necessidade de preparar medidas suficientemente dissuasoras da estratégia, que tão bons frutos tem dado ao clube azul, que consiste em dificultar ao Benfica o fortalecimento competitivo das suas equipas, agravando os respetivos custos operacionais e desviando para as suas “trincheiras” atletas influentes, ironicamente, descobertos pelo departamento de prospeção do nosso clube, os quais, a par com os “erros grosseiros”  de arbitragem que todos conhecemos, lhe tem proporcionado superioridade desportiva há décadas, hipocritamente, cobardemente enaltecida pela generalidade dos comentadores desportivos e algumas figuras públicas.
Perante este cenário, é revoltante assistir “à engorda” obscena dos empresários, à “chantagem” frequente dos atletas junto dos seus clubes, à indiferença das superestruturas desportivas, à incompetência do sistema judicial e ao silêncio ensurdecedor das tutelas governativas.
Afinal, sem clubes não há futebol, mesmo que disfarçados de azul.
AB

sábado, 15 de setembro de 2012

O País Sonae


Cá em casa, o jantar de hoje foi caldo verde; uma sopa bem característica da dieta mediterrânica, com ingredientes baratos e fáceis de obter. Com o estatuto gastronómico deste prato, só mesmo a sopa de feijão, o bacalhau, a sardinha assada, ou os “jaquinzinhos” fritos. Um prato amigo da gente simples. Nos meus tempos da memorável Rua do Pinhal, onde parecíamos todos da mesma família, comprávamos as couves, na mercearia da senhora Maria do Penteadinho ou na do Sr Mário, migadas depois na popular máquina de fabrico nacional - da prestigiada fábrica de metalomecânica “Joca”, ainda ativa. Quem quisesse podia levar as couves de casa e alguns faziam-no.

Reparei que o caldo verde vinha embalado e etiquetado. Peguei-lhe, “virei-o de um lado, do outro e de frente”. Li a etiqueta. Voltei a ler. Não havia engano, dizia lá: SONAE, 100 % nacional, couve galega ripada, peso líquido 300 g, conservar entre 1 ºC e 4 ºC, consumir até 17.09.2012. Indicava ainda o nº do lote, a composição por dose, morada e outras indicações, conforme os requisitos legais. Quer dizer, aquele caldo verde era um produto SONAE e, para bem da nossa saúde, respeitava uma série de requisitos definidos pelos tecnocratas de Bruxelas, que da nossa saúde sabem tratar muito bem.

Então lembrei-me. Lembrei-me daquela mulher pobre, viúva, com um filho adulto deficiente incapaz de trabalhar, que ganhava o pão de cada dia para ambos, a cortar couves para caldo verde, à faca, no mercado de Camarate. Não sei quanto ganhava, não sei há quanto tempo o fazia, sei que era o suficiente para se manter e ao seu pobre filho.

Um dia, um dia apareceram-lhe os fiscais da ASAE, sempre zelosos a tratar-nos da saúde, proibiram a pobre senhora de continuar com a atividade e aplicaram-lhe uma multa, deixando aquela família na indigência. Provavelmente, ficaram felizes os polícias por terem feito cumprir a escrupulosa lei; e a lei garante-nos uma vida saudável. Ou não, mas isso não é da sua conta; o mundo, decerto, terá ficado muito melhor! Terão pensado, para bem das suas consciências.

Jean Claude - nome fictício -, farto da impessoalidade e correria da vida parisiense, há mais de duas décadas, perdeu-se de amores por uma portuguesa com quem casou e pelo nosso Portugal. A ponto de mudar para cá a sua residência, fazer cá a sua vida, ter e criar cá as suas filhas. Fascinava-o a nossa tranquilidade e a matriz rústica que dominava a nossa sociedade e se traduzia numa qualidade de vida que já conhecera e à qual queria regressar. Investiu as suas economias num ginásio de fitness, de cuja arte era conhecedor, de cujos rendimentos viveu, dignamente, com a sua família.

Mas houve um dia; há sempre um dia, em que, os polícias da ASAE lhe entraram pela porta, identificaram desconformidades legais recentes, aplicaram-lhe pesada multa e proibiram-no de exercer a atividade, até corrigir as irregularidades, cujo cumprimento, afinal,  lhe inviabilizava o negócio!  Jean Claude fechou a porta e vive revoltado por lhe terem negado o seu ganha-pão e dos seus, como sempre, para bem da nossa saúde, algo que preocupa permanentemente este corpo policial.

Ah, mas não desesperem, gente de pouca fé; o grupo SONAE, entretanto, montou uma rede de ginásios e anunciou recentemente um desconto de 30 % para não deixarmos e cuidar da nossa rica saúde. Sensibiliza-me ver como se preocupam connosco.

Correio da Manhã de segunda-feira, 20.08.2012, na página 26, apresenta uma crónica de Secundino Cunha, com o título “Pão vai aumentar em setembro”.  Transcrevo: “Os custos de produção dispararam no primeiro semestre deste ano mais de quinze por cento. As farinhas e os combustíveis não param de subir, pelo que um ajustamento de preços se torna inevitável”, terá dito ao Correio da Manhã, António Fontes, presidente da Associação dos Industriais de Panificação do Norte (AIPAN).

Mais à frente; “Assim, prevê-se que a carcaça de 40 gramas suba um cêntimo, passando para os doze, em média, no Norte, e atinja os dezoito cêntimos na região da Grande Lisboa”. Ainda mais à frente; “Há aqui um mundo especulativo, que acompanha de perto as oscilações dos combustíveis e que atira as farinhas para valores inaceitáveis”. Terá dito o industrial Carlos Santos acrescentando que: “não são os produtores de cereais quem ganha com estes aumentos”. Referiu ainda António Fontes: “”A eletricidade está mais cara do que nunca, o gasóleo é o que se vê e o preço do gás duplicou nos últimos dois anos, isto depois de as autoridades terem convencido os industriais a optarem pelo gás em vez da lenha, por razões ambientais”.

Em caixa com o título de  “Pormenores” refere ainda o CM: “Falências a Norte”; Na região Norte há 3500 empresas de panificação e similares. A AIPAN prevê que, até ao  final do ano,  se verifique mais de uma centena de falências e 600 desempregados”.

Ainda noutra caixa, desta vez sob o título “O Governo tem de criar alguma regulamentação” , o mesmo António Fontes terá dito que iria pedir ao Ministro da Economia  para intervir no sentido de impedir práticas de dumping por parte de “algumas grandes superfícies, que vendem a carcaça a cinco cêntimos”. “Eles fazem do pão elemento de captação de clientes e estão a destruir todo o setor”, terá afirmado o mesmo António Fontes.

Durante o verão passou-se algo idêntico com a sardinha; uma das grandes superfícies, na fase crítica, comprou toda a sardinha da lota a preços proibitivos - cerca de 400 euros o cabaz -, para a vender depois nos seus estabelecimentos a preços reduzidos, quanto a mim, com o mesmo fito de atrair e fidelizar clientela, destruindo assim milhares de microempresas do setor.

Na área da refrigeração e ar condicionado, que conheço muito bem, verifica-se desde há uns anos, um ataque “feroz” às pequenas empresas colocando-lhe, concertadamente, e sob os mais variados pretextos sucessivas dificuldades de grau crescente, com o fim de as fechar e forçar a concentração que, dizem estudos do INE, garante maior produtividade.

Para salvação de todos nós, o grupo SONAE, importa os equipamentos do ramo, distribui-os, executa os projetos, instala-o e faz a manutenção dos mesmos, destruindo dezenas de milhares de pequenas empresas, captando o valor acrescentado que era repartido por todas elas.

É inegável que o efeito de concentração económica induzido pelas grandes superfícies é uma das grandes causas do desemprego que se abate sobre o país, com tendência para se agravar, uma vez que, a insaciedade dos seus acionistas, impele-os, a apoderarem-se de todos os negócios rentáveis de todas as fileiras, contribuindo decisivamente, para o empobrecimento de milhares de portugueses, pela destruição de muitos milhares de postos de trabalho; salvo erro, por cada posto criado pelas grandes superfícies, três são destruidos!

Como se vê, não tarda, poderemos mudar o nome ao país em homenagem ao futuro senhor feudal que providenciará todas as nossas carências.

Triste fim para uma utopia!

AB

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O mostrengo

Passadas três jornadas, um dos principais braços do “mostrengo”, continua a fazer, com notável zelo, o seu trabalho. Com efeito, depois de assistirmos, com indignação, ao duplo prémio com que Pedro Proença foi agraciado pela UEFA, apesar de mais um erro grosseiro cometido pela sua equipa, mais uma vez decisivo para a definição do campeão nacional - por sinal o do costume -, legitiman-nos a concluir que foi mesmo essa a razão da distinção e que um dos braços do maldito mostrengo já se estendeu àquele organismo.

Depois de assistirmos à arrogância daquele árbitro internacional ao recomendar cinicamente, aos Dirigentes dos clubes, a título de resposta às severas críticas de que foi alvo e confiante da sua condição de impunidade, maior competência na gestão dos mesmos, sabendo de antemão que não há competência que resista quer à aselhice quer à má-fé dos membros das equipas de arbitragem.

Caiu-nos agora “em cima” - salvo seja- metronomicamente, o despropositado castigo ao Treinador da nossa equipa, a pretexto de ter ofendido a honra do árbitro auxiliar que não assinalou o fora de jogo donde resultou o tento que veio a decidir o campeão. O conceito de honra é subjetivo, e eu não considero honrada uma pessoa incompetente ao ponto de lesar gravemente as legítimas espetativas de terceiros. Muitos menos considero honrado alguém que, de má-fé, simula uma dificuldade para sustentar um erro grosseiro.

A verdade é que, esse erro capital, voluntário ou involuntário, lesou gravemente o Treinador da equipa ofendida, os seus colaboradores, os seus atletas e a sua entidade patronal; a tal entidade que “tem obrigação” de gerir com parcimónia e inteligência os recursos de que dispõe, e que, com seus pares, faz funcionar a indústria do futebol; que vê gorado o seu trabalho e de toda a organização…por um erro grosseiro de terceiros…paradoxalmente, suscetível de agraciamento. Um só erro; vital, decisivo, imoral!

Segundo Ricardo Costa - no jornal“O I” de 8 de Setembro de 2012 -“…o órgão da federação está a violar a lei ao não publicar um acórdão com a descrição de cada etapa do processo e a discriminação das datas correspondentes, ou pelo menos um resumo dos principais momentos.” Sendo assim, porque não requer o Benfica a nulidade da sentença e suscita o levantamento de um processo disciplinar interno aos responsáveis por mais este alegado erro grosseiro?

Quem repara os danos materiais e imateriais provocados ao Treinador duplamente “condenado” e a toda a organização de que faz parte? Quem responsabilizar por eventuais desacatos que a sucessão de “erros grosseiros” poderá desencadear? Quem escrutina o desempenho da FPF e dos seus órgãos? Supostamente, a Assembleia Geral, efetivamente, ninguém! A FPF e seus órgãos funcionam em roda livre. O futebol, em Portugal, é um Estado àparte, governado na sombra pelo hediondo mostrengo.

Na Indústria do Futebol, os erros grosseiros das equipas de arbitragem previnem-se punindo exemplarmente quem os pratica, sobretudo quando repetidos. Não é assim, Sr. Presidente da FPF? Não é assim, Sr. Presidente da UEFA? Não é assim, Sr. Presidente da FIFA? Não é assim, Sr. Secretário de Estado da Juventude e Desporto? É sim!

Em curso está “o caso Luisão”, claro que vem aí “chumbo grosso”…no momento oportuno, virá. O braço mediático do mostrengo já está a fazer o seu trabalho nas “tabancas” da comunicação social, derramando toda a sua indignação pela “ineficácia” efetiva da punição aplicada ao nosso Treinador.

Não sei se o árbitro em causa - Christian Fisher - estava devidamente habilitado para dirigir a partida, não sei quem o indicou, não sei quem o nomeou, mas sei que, segundo o Correio da Manhã de 2012.09.01, pág. 28, o “relatório elaborado por Carla Hulslep, médico-chefe do St. Elisabeth Hospital Iserlohn, enviado pela Federação alemã à congénere portuguesa, para os membros do CD restam poucas dúvidas de que o árbitro agiu de má-fé “. Afirma ainda o articulista do CM - António Pereira -, na mesma crónica; “ao contrário das expetativas dos dirigentes que esperam ver Luisão absolvido, o central vai mesmo ser punido pela forma intempestiva como avançou para o juiz, não conseguindo, depois, evitar o contacto físico entre os dois”. Que tal? Lembram-se daquela adivinha: “qual é a coisa qual é ela que antes de ser já o era?” Não, não é a pescada…é o Luisão!

Quanto a mim, os juristas do Benfica e o Luisão devem avaliar a viabilidade de avançar com um processo-civil por danos patrimoniais e não patrimoniais contra o senhor Fisher, uma vez que, segundo o mesmo Correio da Manhã de 19 de Agosto de 2012, numa crónica de João Querido Manha refere que “ O árbitro Christian Fisher diz que lhe foi diagnosticado um traumatismo craniano a seguir ao jogo particular que Fortuna Dusseldorf e Benfica disputaram no dia 11 de Agosto. No relatório, ao qual o CM teve acesso, o juiz alemão não utiliza a palavra ‘agressão’ em nenhum momento, mas diz ter levado um empurrão que o fez cair”.

Por outro lado, parece claro nas imagens que o Sr. Fisher foi agressivo para com o Máxi, merecendo, no mínimo, uma repreensão formal após processo disciplinar. Ademais, os Dirigentes do Benfica, num gesto de invulgar nobreza, assumiram as consequências da interrupção da partida por iniciativa, alegadamente irregular, do mesmo árbitro.

Com que moralidade se pede a punição de Luisão? Como é que o articulista do CM diz saber que Luisão vai ser castigado? Quem escrutina o funcionamento dos órgãos da FPF? Quanto a mim, o departamento jurídico do Benfica deveria exigir esclarecimentos ao Chefe de Redação do CM, ao respetivo articulista e à FPF. Temos que lhes cair em cima sempre que a razão nos assista, caso contrário…

Tudo isto depois de mais um erro grosseiro, desta vez da equipa de Artur Soares Dias, nos ter custado os primeiros dois pontos, que proporcionariam à nossa equipa o primeiro lugar destacado e a força anímica subjacente?

A procissão ainda não saiu da igreja e já estraleja no ar, abundante foguetório!

Chamo a isto, "o futebol da piolheira".

AB

terça-feira, 11 de setembro de 2012

DIFERENÇAS DE MENTALIDADE 

Comecei a dar formação em horário pós-laboral em 1993 e, a partir de 2005 também em horário laboral. 

Já tive turmas de formandos em cursos com equivalência do 7º ao 12º ano, cursos profissionais para desempregados e cursos de actualização de diversas áreas direccionados a trabalhadores e gestores de empresas. Quase todos eles, excepto pouquíssimos exemplos, frequentaram as aulas esperando simplesmente pelo final delas, completamente alheados e sem interesse em tirarem algum proveito da aprendizagem, inclusivamente tentando boicotar o raciocínio do formador e o consequente avançar da matéria. 

Em 2008 fui convidado para um projecto de formação na refinaria da Sonangol em Luanda e como era um novo desafio resolvi aceitar. Desde então tenho ido a esse país quase todos os anos, inserido em diversos projectos de formação a trabalhadores do sector da indústria petrolífera. 

Esta síntese tem a ver com as diferenças de mentalidade entre os formandos portugueses e angolanos. 

Os formandos portugueses, tanto adolescentes como adultos, chegam aos centros de formação em transporte próprio, bem vestidos com roupa de boas marcas, bons computadores, com telemóveis da última geração com os quais passam o tempo de aula a tentar jogar e enviar mensagens, enquanto os angolanos, chegam nos transportes colectivos, ou transportes das empresas para as quais trabalham, vestidos modestamente e, pouquíssimos com computadores.  

Ao contrário dos formandos portugueses, os angolanos têm sede de aprendizagem, desejam aprender o máximo possível, apresentando problemas, questionando quando têm dúvidas, sem pressas, nunca olhando o relógio, mesmo que a hora de final do tempo da aula já tenha terminado. 

Esta síntese tem a ver com uma futura diferença de sociedade laboral entre o nosso país e Angola, pois há alguns anos os angolanos vinham para o nosso país trabalhar nas obras, hoje somos nós, na grande maioria, que vamos realizar esses trabalhos lá, quando as nossas empresas de construção aproveitam as sobras deixadas pelas empresas chinesas. 

Teremos rapidamente que mudar de mentalidade e atitude, pois assim não iremos a lado nenhum e como costumo dizer, “não somos o melhor país africano”. 

António M. Rebordão Ribeiro 

Crescimento económico

                                 
Na atual conjuntura de emergência económica e social que vivemos, quer os partidos da oposição, quer largos setores da sociedade, advogam como solução para ultrapassar a crise, o crescimento económico pelo aumento da procura interna provocada pelo aumento dos salários. É o modelo que a CGTP, o PC, o BE e o PS defendem, associado ao investimento público.
 
Tal não é possível e não acredito que se trata de ignorância. Não é possível que pessoas altamente qualificadas, mesmo em áreas diferentes da económica, não compreendam os mecanismos básicos de funcionamento da economia. Trata-se sim, quanto a mim, na maioria dos casos, da "assassina" demagogia política que manipula a opinião pública com vista à obtenção de dividendos politicopartidários, violando os mais elementares princípios de ética política.
 
Vamos então fazer uma breve análise do processo, imaginemos que fazemos parte do Governo, queríamos descalçar esta “bota” e acreditávamos neste processo:
 
1.  O salário mínimo atual é de €485,00 e a taxa de inflação é, salvo erro, 3,2 %. Então, decidíamos um aumento de 5 %, passando o salário mínimo para €509,25. Arredondávamos as contas para €510,00 após verificarmos a viabilidade financeira de projeto.
 
2.    Este aumento repercutir-se-ia em toda a cadeia salarial, naturalmente, com nuances de vária ordem, que não vou agora escalpelizar.
 
3.    Paralelamente, decidíamos avançar com algumas obras públicas já agendadas, depois de assegurado o seu financiamento.
 
4.    Lembremo-nos agora que temos uma pequena economia de mercado aberta:
a.    Pequena; o nosso PIB é de cerca de 160 MME, o da Espanha é de 900 MME e o da Alemanha é de quase 4 BE. Há uns anos, o excedente da produção francesa de carne de pato, era suficiente para abastecer todo o mercado nacional!
b.    De mercado: Vende-se o que o cliente consome e não o que cada um quer produzir (economia de produção).
c.    Aberta; No espaço europeu não há alfandegas nem câmbio, tosos podem vender tudo em todo o lado.
 
5.    Conjugaríamos o aumento de salários com o aumento de investimento público, financiados pela troika, de modo a provocarmos um aumento da procura interna global de 4 %.
 
6.    Como somos pessoas responsáveis, convocaríamos as confederações patronais e outros analistas económicos idóneos, para avaliarmos a capacidade de aumento da oferta interna, chegando à conclusão que nesse ano o limite de tal crescimento seria de 2 %.
 
7.    Assim sendo, ficaríamos com um défice de 2 % que iria agravar o défice crónico da nossa balança comercial e o endividamento, uma vez que teria de ser a oferta externa a responder ao excedente de procura.
 
8.    Por outro lado, aumentando os salários aumentariam os custos de produção que as empresas teriam que refletir no preço final, perdendo competitividade face aos seus concorrentes externos.
 
9.    Assim, O agravamento do défice da balança comercial seria superior a 2 %, talvez 3 %.
10. Do mesmo, modo o índice de preços ao consumidor seria correspondentemente agravado, retirando poder de compra à população, absorvendo parte do aumento salarial.
 
11. Seguiríamos com este processo até se esgotar o financiamento.
 
12. Foi exatamente o que nos aconteceu.
 
13. REGRA DE OURO DO CRESCIMENTO ECONÓMICO: A SUSTENTABILIDADE DO CRESCIMENTO  ECONÓMICO SÓ É POSSÍVEL DESDE QUE OS GANHOS SALARIAIS SEJAM INFERIOR À PRODUTIVIDADE.
 
14. Assim sendo, o primeiro passo a dar consiste em descer à microeconomia e perceber quais são os bloqueios ao crescimento empresarial, diagnóstico que, grosso modo, está feito.
 
15. O segundo passo é convocar todas as partes e obter o contributo de todos para desobstruir o crescimento empresarial.
 
16. Assegurados os ganhos de produtividade, poderão então subir os salários.
 
17. O crescimento económico pelo aumento da procura interna é o processo de compensar uma conjuntura recessiva, desde que o endividamento seja relativamente baixo, 40 % a 50 % e o investimento seja reprodutivo, infelizmente, não fomos suficientemente inteligentes e competentes; agora, quem nos financia impõe a sua própria terapêutica, que não podemos rejeitar sob pena de nos faltar o dinheiro para pagar os salários e as pensões.
 
18. No entanto lembremo-nos que neste período de aflição para a generalidade dos portugueses, há setores que negoceiam aumentos salariais, outros promoções e outros já compensaram os cortes com as “alcavalas” do costume, demonstrando o défice Democrático que reina na sociedade portuguesa, em que alguns, se julgam com mais direitos que outros, característico afinal de qualquer ditadura terceiro-mundista. 
 
AB

domingo, 9 de setembro de 2012

O Novo Benfica


Javi Garcia era dos atletas emblemáticos do Benfica; pela postura, pala garra, pela competência, pela eficácia, pela coragem, pelo amor ao clube que deixava transparecer, víamos nele um dos pilares da reconstrução da velha “mística” Benfiquista, tão necessária ao sucesso desportivo do nosso clube. Não o esqueceremos tão cedo, desejamos-lhe o maior sucesso, mas sabemos que deixa uma lacuna na equipa difícil de colmatar e, sobretudo, ficámos afetivamente “amputados” e por isso, tristes.
Axel Witsel é um atleta de eleição, fortíssimo; fisicamente, tecnicamente e taticamente. Corajoso e cordial também. Mais um atleta à Benfica que daria contributo decisivo na conquista das vitórias porque ansiamos e de quem começávamos a gostar. Abriu novo “buraco” na equipa e no nosso afeto.
Lembro os casos de David Luís, Ramirez, Di Maria, Coentrão, muito semelhantes e que prosseguem as suas carreiras noutras paragens com relativo sucesso.
Além dos prejuízos desportivos óbvios para o nosso clube, as inevitáveis consequências afetivas  dos adeptos para com o clube, poderão ser severamente afetadas no futuro com a sucessão destes casos. A ligação afetiva dos sócios, adeptos e simpatizantes ao seu clube “do coração”, sendo decisiva para a subsistência e desenvolvimento do mesmo, materializa-se nos atletas mais emblemáticos, que serão recordados com alegria e saudade por muitas décadas, constituindo o património imaterial, porventura o mais relevante de todos, enquanto gerador de sonhos e motivação de novas façanhas.
O ser humano é um mecanismo extremamente complexo e, muitas vezes, incontrolável. A expetativa de “amputação afetiva” sucessiva, inevitavelmente, conduzirá, compulsivamente, silenciosamente, o adepto a relativizar, aligeirar, essa relação com o seu clube o qual, progressivamente, perderá a identidade tradicional, podendo, eventualmente, cair nesse vazio afetivo, sem o qual, julgo eu, a magia da arte futebolística desaparecerá. Emergirá uma nova identidade igualmente poderosa, substituta da atual? Qual? De momento, não tenho resposta para esta pergunta, só sei, que já não existem os pressupostos do passado que fizeram do Benfica aquilo que é hoje e que é melhor olharmos em a frente, procurando os caminhos do futuro num contexto completamente diferente dos do passado.
O grande capital e a globalização, associados à insaciedade da FIFA, da UEFA, das federações, ligas nacionais e dos clubes mais poderosos da europa, estão a conduzir o futebol a um estado de total descontrolo, perante a passividade “criminosa” da UE, que a tudo assiste com olímpica indiferença. Sucedem-se as competições desportivas, atropelando-se umas às outras, apenas pela necessidade de gerar receitas para sustentar toda esta loucura incontrolável. Hipocritamente, regulamenta-se e impõe-se o fair-play financeiro aos clubes, implementando em simultâneo  calendários desportivos inviabilizantes de qualquer racionalidade na gestão clubística. Perante “o cheiro do graveto” nada nem ninguém resiste! De nada valem contratos, nem cláusulas de rescisão, nem “sinceras” juras de amor pretéritas.
Noutros tempos, quando os clubes eram “donos” da carteira desportiva dos atletas, era comum ouvir estes indignarem-se com a mercantilização de que eram vítimas por parte daqueles, hoje, não só não se indignam, como a desejam! Afinal, salvo honrosas exceções, o clube que todos amam é o “faz-me rir”.
O campeonato nacional já vai na terceira jornada! Com dois atletas estruturais a menos, de que serviu o planeamento desportivo efetuado? E que justiça desportiva e portanto, idoneidade, tem a competição? Porque é que a UEFA e a FIFA não proíbem a transação de jogadores de clubes cujos campeonatos já estejam em curso? Vale tudo? E que poderá fazer o Benfica para evitar estas situações?
A não ser que a UE aprove regulamentação apropriada, o Benfica deve ter acesso aos mercados de todos os seus pares; Espanhóis, Ingleses, Franceses, Alemães, Italianos, etc. Tal só é possível participando em competições europeias transnacionais onde tenha acesso às receitas equivalentes. Não falo da atual Liga dos Campeões, mas de campeonatos europeus de dois ou três níveis. Simultaneamente pôr-se-ia fim a provas inúteis, como a Taça de Portugal, a Taça da Liga e a Supertaça. Em cada país organizar-se-iam campeonatos com os restantes clubes em contexto a estudar; profissionais, semiamadores e amadores.
Sei que temos bons atletas no plantel que poderão minimizar as perdas; oxalá os nossos Técnicos os possam otimizar. Recomendo à Direção que use os 40 ME da venda do Witsel para amortizar o passivo e que mantenha a todo o custo um núcleo de atletas icónicos portadores da temível mística Benfiquista. Refiro-me ao Luisão, ao Máxi, ao Aimar e ao Cardozo, a que se poderão juntar muito em breve, o Artur, o Garay, o Carlos Martins, o Rodrigo, o Sálvio e o Melgarejo. Teremos que ser capazes de o fazer cultivando sempre o estilo “perfumado” do nosso jogo.

AB

sábado, 8 de setembro de 2012

João César das Neves “Pelos disparates que fizemos, até estamos a pagar barato”
Por Isabel Tavares, publicado em 8 Set 2012 - 03:10 | Actualizado há 19 horas 37 minutos
O professor da Universidade Católica ficou satisfeito com a decisão do BCE de finalmente apoiar o euro. Recebeu-nos no seu gabinete da Católica Lisbon School of Business and Economics, o nº5319, no terceiro piso. Um espaço que parece pequeno para tantos livros e onde algumas imagens alusivas aos três pastorinhos fazem transparecer a devoção a Nossa Senhora. Ex-assessor económico de Cavaco Silva, então primeiro- -ministro, o professor catedrático confessa que procura rezar permanentemente: “Rezo para viver e vivo para rezar”. Para Portugal ainda acredita num milagre, que poderá acontecer já em 2013.
Concorda que esta é a geração mais bem preparada de sempre?
Sim, mas nós também temos um atraso na preparação em relação à realidade. Agora não há dúvida que os meios hoje disponíveis para os jovens são muito superiores aos dos tempos antigos.
E preparada para quê?
O mundo está a mudar brutalmente, como no meu tempo estava, mas se calhar este tempo é um bocadinho mais perturbador. Eu acho que os jovens hoje têm medo, que é uma coisa que as gerações anteriores não tinham.
De quê?
Têm medo por causa do desemprego, têm medo porque as oportunidades são muito mais vastas e a escolha mais difícil. Depois, é preciso dizer que a geração anterior à actual, que tem hoje 30 anos, foi enganada.
Enganada por quem?
Uma parte foi mesmo fraude política, outra foi ilusão. Tudo, agravado pela crise, cria uma forte tensão na juventude, que não é pior que a vivida pelos pais ou avós no 25 de Abril. Sentem-se irritados e muitos estão a reagir como os seus avós reagiram, a emigrar, que é uma coisa boa, outros estão a dar a volta como são capazes. Esta é uma geração que vai ter bons resultados, acho eu. Só que não está a ser fácil.
Qual a razão de fundo para não ser fácil?
É uma razão que está a afectar todo o mundo ocidental, não tem nada a ver com o caso português. Está a acontecer nos Estados Unidos, na Alemanha, em todos os países, e tem a ver com as pressões que as novidades tecnológicas, a globalização, exercem sobre o mercado de trabalho e sobre a vida das pessoas. Trazem grandes oportunidades mas também grandes medos e até uma certa polarização.
No 25 de Abril as pessoas sabiam o que queriam. Agora também sabem?
Em certo sentido esta geração é mais pacífica que a anterior. Estamos de acordo que queremos estar na Europa, que queremos uma economia de mercado, já não há as tensões entre republicanos e monárquicos, entre comunistas e liberais. Há alguma desorientação mais no lado dos costumes, no abandono do casamento, dos filhos como um propósito... As tais oportunidades criaram algumas perplexidades, talvez esta geração esteja um bocadinho deslumbrada e a cair numa fraude.
Que fraude é essa?
É como a fraude dos anos 60/70, da geração hippy, que abandonou tudo o que era antigo, deslumbrada por uma coisa nova. É um fenómeno parecido que está a passar-se em Portugal, de forma tardia. Não andam com flores no cabelo, mas estão a rejeitar as tradições. E de alguma forma vão voltar a elas porque vão ter de crescer. Há uma juventude retardada, gente que quer ser jovem mas que já tem 50 anos, pessoas da minha idade que nunca chegaram a ter um emprego, família, que continuam a ter cabelos compridos e a jogar computador, a achar que tem uma vida. Não têm: get a life!
Isso pode ter a ver, também, com o aumento da esperança de vida? Mário Soares dizia que antes era fácil manter um casamento, morria-se cedo...
Esse efeito é verdade, mas há, de facto, um desmantelamento na sociedade portuguesa, não é nas outras sociedades, que é perturbador. Sobretudo porque houve um movimento político a apoiar este tipo de circunstância e estamos agora com a taxa de natalidade mais baixa do mundo. Isto não aconteceu nos Estados Unidos nem na Inglaterra, porque eles aperceberam--se e tomaram medidas para inverter a situação. Nós fizemos o contrário.
E discute-se o assunto?
Ninguém está a ligar nenhuma, é um assunto que passa completamente ao lado.
O facto de este governo ser tão jovem, em idade, condiciona-o?

Sobre este governo em particular acho que a questão não é tão simples. Está a fazer o que a troika manda. Daqui a dois, três anos, quando as coisas começarem a melhorar, nessa altura é que vamos ver se o governo é bom ou não. As coisas estão de tal maneira fossilizadas que uma pessoa nova pode ser uma lufada de ar fresco. As cliques instaladas estão a ser perturbadas não pelo governo mas pela troika, é uma luta de titãs entre grupos instalados e os nossos credores.
No meio está o governo...
O governo está espremido entre duas forças, os credores que não emprestam mais enquanto não tivermos juízo e esta gente – professores, médicos, etc. –, que quer proteger ao máximo os seus interesses, esteve a comer acima das suas posses durante 15 ou 20 anos, à custa da dívida externa. Em 2008 e 2009 o desemprego estava a subir e ninguém falava nisso, os reformados continuavam a receber o seu, os funcionários públicos até foram aumentados porque era ano de eleições… O ano de 2009 é extraordinário, a economia caiu 2,5% e os salários subiram 5% em termos reais, portanto é um ano de malucos. O mundo estava a desabar e nós estávamos a cantar porque havia três eleições.
Dos actuais indicadores qual é o que o surpreende mais?
O desemprego atingiu níveis incomportáveis e incomparáveis com qualquer época anterior. Penso que surpreendeu toda a gente, nacionais e internacionais, o que poderá ser a questão mais importante nesta crise.
Que é qual?
Saber se nós ainda somos portugueses ou se já somos europeus. Mas acho que já começo a ter uma resposta. Ou seja, Portugal tinha uma taxa de desemprego muito baixa porque era muito flexível, as pessoas davam muito a volta, emigravam, arranjavam um emprego ao lado, a família tomava conta deles, havia uma flexibilidade natural na economia portuguesa, que permitia combater estes choques. Por isso a Europa estava com desemprego de 11% e nós com desemprego de 6%. E agora não aconteceu isso, chegámos aos 15%. Portanto, pode ser que nós já estejamos europeus.
E isso é bom ou mau?
Acho que tem grandes inconvenientes, no geral é mau! Começa a haver alguns sinais de que ainda somos portugueses: a emigração aconteceu rapidamente – não temos dados, infelizmente o INE não tem estado a anunciar, mas os poucos indicadores mostram um aumento enorme da emigração, que é uma das maneiras antigas que os portugueses têm de dar a volta às situações. Em Portugal há fenómenos únicos, como o dos salários em atraso. As pessoas preferem trabalhar de borla a perder o emprego, o que não acontece na Europa. Outro sinal importante de que ainda somos portugueses é a calma das pessoas. A Grécia estava a ferro e fogo, Itália estava a ferro e fogo, Espanha estava a ferro e fogo e em Portugal há umas manifestações para cumprir calendário, umas greves gerais que nunca correm bem, mas o país está sereno.
Isso não tem desvantagens?
Tem desvantagens e leva os partidos de oposição, como a esquerda furiosa, a dizer “porque é que não se mexem”, “são todos comodistas”… Mas não tem nada ver com isso.
Tem a ver com o quê?
Com o facto de as pessoas perceberem que se vão fazer manifestações, se vão fazer protestos, isso estraga mais, não resolve nada, não vale a pena, é inútil. No fundo as pessoas perceberam que isto foi uma festa e agora é preciso dar a volta e apertar o cinto.
E até onde é possível apertar o cinto?
Ninguém sabe. Eu estou convencido que nos vai sair barato, para o nível de disparate que fizemos. Primeiro porque nos estamos a portar bem, segundo porque isto passou a ser um problema europeu, depois porque já começa a ser claro, sobretudo na Grécia, que a austeridade só pela austeridade não chega.
O que é que isso significa?
Quer dizer que é possível, dentro de algum tempo, quando não sei, haver algum alívio, primeiro na austeridade e depois com a tal capacidade que os portugueses têm de se desenrascar, que algures em 2013 a economia comece a ter algum crescimento. Se isso acontecer, então saiu-nos muito barato. Quer dizer que por junto tivemos uma quebra de 3,4% ou 4%, talvez 5% – a Grécia tem 21% ou 22%.
As economias ocidentais tiveram um longo período de crescimento. Até que ponto é expectável que se continue a crescer?
O problema é que o crescimento tem mudado muito e hoje crescer tem significados diferentes de antes. E, em alguns países está a levantar-se esse problema, crescer até quando, quando é que isto pára e até que ponto é que o crescimento significa qualidade de vida, satisfação, felicidade. Há aqui um estigma de que quando não se cresce é uma coisa má, mas se calhar não é. Claro que nós não sabemos o que é uma economia saudável que não está em crescimento, se chega um ponto em que a economia pára, os custos fixos ficam cada vez mais importantes e, sobretudo se a população começar a cair, começa a haver ouro tipo de problemas, uma dinâmica que nós não sabemos como funciona. Mas Portugal ainda está muito longe disso, estamos a um nível intermédio, e o nosso objectivo é muito claro, copiar a Áustria, a Bélgica e outros países pequenos europeus.
O que é que isso significa em termos práticos?
Temos de mudar a maneira como estamos a fazer as coisas. Quando se fala nisto, imediatamente aparece um esperto a falar em política de crescimento e planeamento da sociedade portuguesa, que é exactamente a maneira errada, porque essa foi a que nós seguimos nos últimos 15 anos e que nos trouxe ao buraco. É preciso perceber que crescimento económico é uma coisa que as empresas fazem, os mercados, os trabalhadores, os consumidores fazem. O que é preciso é largá-los, não é andar em cima deles com mais regulamentos, mais regras, mais impressos e exigências que, evidentemente, vão ter como consequência o que nós vemos. Defende-se todas as causas menos a da produção, a do emprego. Se não houver dinheiro não há mais nada.
Os bancos têm um papel fundamental no financiamento da economia. Como vê a sua actuação nos últimos tempos?
É preciso dizer que a crise financeira foi uma bolha, uma euforia, em que de alguma maneira todos tivemos culpa. Mas Portugal não esteve na crise internacional, nas subprime, ao contrário de Espanha. Houve países do Paquistão à Suíça e à Polónia que tiveram falências porque tinham lá lixo das hipotecas norte-americanas. Nós não.
Então o que é que nos aconteceu?
O que nos aconteceu foi uma coisa que é preocupante e que ainda não está a ser percebida. Tivemos um fenómeno extraordinário, um problema do Estado. Os mercados internacionais fecharam-se à dívida portuguesa no princípio de 2010, mas até meados de 2011 o governo português fingiu que tinha crédito e impingiu dívida pública à brutalidade para os nossos bancos, que foram obrigados a comprá-la em quantidades industriais, o que agora está a criar problemas enormes; dívida pública e dívida de empresas públicas.
Isso levanta várias questões…
Isto levanta enormes problemas, como a influência política na banca ou a independência financeira das nossas instituições. Voltámos ao tempo da banca nacionalizada…
A banca demorou a dizer chega. Porquê?
Demorou. Certamente que a banca não queria aquele lixo. Qual foi a possibilidade que o engenheiro Sócrates teve de, no fundo, ter a banca no bolso? Não sei, é uma história de influência política... A história do BCP, por exemplo, que foi completamente capturado pelo Estado através de um assalto aberto, dá algumas pistas para perceber isso. Há a Caixa Geral de Depósitos que é pública, outros bancos que estão perto disso, mas esta é uma história que ainda está por contar: porque é que a banca, que claramente não tinha interesse, foi obrigada a comprar dívida.
E a actuação do Banco de Portugal?
Bem, o Banco de Portugal não podia fazer nada, isto não é uma questão de regulamentação bancária. Podia ter feito outras coisas.
Mas é uma questão de supervisão, de garantir que as regras prudenciais são cumpridas…
Há coisas gravíssimas que se podem assacar ao Banco de Portugal, nomeadamente no BPN, que é um roubo que aconteceu ao longo de 20 anos e que o Banco de Portugal não reparou, uma entidade que fez violação gravíssima da prudência financeira e que não foi apanhada por quem devia ter vigiado isso. Aqui é diferente, não é crédito dado a uma empresa, é dado ao Estado, bolas, o Estado não é um ladrão que depois vai fugir com o dinheiro… mas depois é! Claro que eu percebo que o Banco de Portugal não pode vir dizer “não emprestes dinheiro a essa entidade, que é o Estado – e o Banco de Portugal é do Estado…
Agora temos a troika a fazer esse papel…
Tudo isto criou um problema financeiro que tem vários níveis, e é preciso separar as questões. O problema financeiro é um problema que o mundo todo está a ter, os bancos do mundo inteiro estão aflitos porque houve uma crise financeira que ainda está meio resolvida, ainda está tudo muito frágil. A banca portuguesa, embora não estivesse directamente afectada pela questão, sofreu por tabela. Depois, há o problema da banca portuguesa, que está ainda em transformação na Europa, e aí a questão do euro também levanta uma incerteza. Tal como o facto de o Estado português estar falido cria uma má imagem para todas as empresas portuguesas, em particular para os bancos. Todo o país está mal visto por ser Portugal, que está do lado errado das notícias e secou-se o mercado internacional.
Os bancos dizem que têm dinheiro...
Mas têm medo. O terceiro elemento é a própria economia, que está muito frágil. Num momento em que há muita desconfiança internacional sobre a banca, muita desconfiança específica sobre Portugal, têm medo de emprestar. Mas um aspecto novo, que já aconteceu mas que está a voltar e num clima completamente diferente, é o que me preocupa mais: temos outra vez a banca no bolso do Estado. Resultado do último consulado Sócrates – e é preciso ver que o sistema português cabe num táxi, qualquer dia até o banco de trás do táxi chega –, as empresas desses grupos, sendo algumas indiscutivelmente privadas, como o Banco Espírito Santo, emprestaram dinheiro ao Estado porquê? Porque é que o BES emprestou tanto, se sabia que era uma estupidez? Esta nova influência política, descarada numa altura em que o mundo é completamente diferente, em que a Europa está toda aberta financeiramente, assusta-me.
Como é que a banca se pode libertar dessa parte do negócio?
É uma negociação política, uma vez mais. Agora a banca vai ter de estar outra vez enfiada com o governo em negociações até normalizar a situação. Ou não. Não tenho a certeza que o Estado que saboreou ter a banca no bolso queira agora largá-la.
Prefere a CGD pública ou privada?
Ser pública não tem problema, ser privada também não. Passar de pública a privada é que é assustador.
É-lhe indiferente de quem é o capital a quem são vendidas as empresas públicas?
Fazer privatizações por razões financeiras e não por razões económicas é asneira. Não estou a criticar o governo, se algum governo critico é aquele que nos pôs nesta situação. Esta circunstância foi forçada, este governo não tem culpa. Agora, se é vendida a chinês ou angolano isso, sinceramente, não me faz mossa. Mas é importante que seja bem escolhido, são empresas necessárias para o país, já estamos a rapar o fundo do tacho. Pode haver aqui problemas, quando estamos a falar da RTP, da TAP… Infelizmente a gestão pública das empresas nunca foi brilhante.
A RTP é fundamental?
A RTP tem um valor cultural enorme em termos de arquivo. Depois, como televisão, é um contra-senso: por um lado tem de fazer serviço público, que nunca ninguém soube muito bem o que era, por outro concorre com as outras mas tem dinheiros públicos, que é uma batota em termos de concorrência. Uma vez mais, no meio de uma trovoada enorme é que se vão resolver coisas que se deviam ter resolvido com calma. Tenham vergonha na cara e vejam quem nos pôs nesta situação e quem criou as condições para que isto acontecesse.
Sobre as PPP, esperava mais?
O conceito de parceria público-privada é extraordinariamente complicado, é uma tentativa difícil de conseguir o bom de dois lados, juntar ao interesse público a boa gestão do privado. Mas é possível conseguir o mal de dois lados, uma má gestão e ir tudo para o bolso dos privados, que em alguns casos foi o que aconteceu. O que aconteceu em Portugal é que temos mais PPP que todos os países da Europa somados. A forma como foi feito é de loucos e atingiu proporções homéricas, com coisas absolutamente assustadoras. Mas isto não tem a ver com a crise, porque as PPP este ano e no próximo dão trocos. Com as PPP, o governo anterior empenhou os seus sucessores durante décadas. É assustador ver como é que aconteceu, em democracia e com a Europa a ver…
Ainda acredita na Europa?
A União Europeia é uma impossibilidade histórica. É impossível ter 27 países unidos, portanto é uma coisa que está sempre à beira do abismo, foi assim que nasceu. Esta crise é causada pelo problema de sempre, que é um problema de solidariedade e que começa pelo abuso da solidariedade por parte dos mais fracos. A Grécia abusou, Portugal abusou, Espanha abusou escandalosamente da solidariedade dos outros, endividando-se à maluca e, no fundo, violando abertamente as regras.
Mas com a conivência de todos…
Sim, nas barbas de toda a gente. Mas penso que a Europa ainda tem muitas cartas para dar e vai sair mais forte desta crise.
Como viu a decisão de ontem do BCE?
O BCE deu finalmente um sinal de que o euro é mais importante, mas vamos ver se chega e se vai a tempo, eu acredito que sim. O facto de os alemães terem votado contra – e Merkel não podia ter feito outra coisa, porque internamente está a ser pressionada –, até pode ser positivo. Se tivesse bloqueado a decisão teria sido dramático.
Voltando a Portugal, como é que é ser assessor económico de Cavaco Silva?
Foi uma experiência única. O professor Cavaco Silva é um técnico, foi meu professor e é um professor. Dentro do gabinete dele não havia influências políticas, não havia tricas, havia trabalho técnico e ele separava muito bem as coisas. Está permanentemente a trabalhar e sabe tudo de cor, estatísticas, indicadores, decretos...
Conheceu vários políticos…
Na política está o melhor e o pior da sociedade portuguesa.
Quem é o pior?
Não vou dizer nomes, mas os melhores e os piores são autarcas.
Quem pode ser o próximo Presidente da República?
Não faço ideia, mas temos muita gente. Só que no nosso sistema, infelizmente, o Presidente não conta nada. O Presidente da República, que é pessoalmente eleito pelo povo, só intervém se usar a bomba atómica, que é demitir o governo ou o parlamento. É um contra-senso. Mas, se não houvesse limitação de mandatos os presidentes ficavam lá para sempre. Mas para fazer o quê, o que é que fizeram todos? Podem estragar, e o homem que mostrou isso claramente foi Mário Soares. Com o professor Cavaco Silva mostrou que podia meter muitos paus na engrenagem para impedir as coisas de andar. A não ser que haja um Mário Soares, que andou a fazer terrorismo e que quando tem oportunidade de estragar a vida ao governo usa-a, este não é um bom sistema.
O actual governo, fica até ao fim?
A experiência da AD foi sempre má, nunca tivermos uma aliança democrática que chegasse ao fim. Mas vamos ver, eu espero que sim, porque era indispensável que tal acontecesse.